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2011
DESENHADORA
por Lucas Oliveira
Ninguém desenha pelo desenho. (Vilanova Artigas)
Em sua origem, o termo desenho contenta o que se imprime de uma ideia ou gesto sobre uma superfície. O que resulta plasticamente deste gesto - o que se dá a ver - é a conformação da ideia como uma experiência que se insinua aos olhos. O desenho é a lacuna entre o que o olhar entende, o que o gesto conquista e um esforço criativo. Como prática, está relacionado a uma noção de desígnio, de intenção e propósito. O corpo, munido de uma ferramenta, se esforça até alcançar a força e a dimensão desejadas para riscar ou arriscar, com doses de sensibilidade e cálculo. O disegnatore reorganiza o próprio corpo, mas submete também a percepção de quem trava contato com o desenho. Aí, para se fazer notado, o desenho convida à apreciação o olhar, o corpo e os sentidos. Ampliam-se as possibilidades do termo, que poderá ser entendido como a proposição de uma experiência imersiva em si, mas também como o criador de um espaço de invenção, descoberta e surpresa conjunta.
O conjunto de trabalhos que compõe a exposição Encapelado propõe a descoberta dos desígnios da artista Flora Assumpção. Munida de uma investigação sobre qualidades serpentescas, máquinas fabulosas e fenômenos naturais, a artista configura uma atmosfera ficcional que mescla a exploração de desenhos em escala arquitetônica, de imagens ampliadas, famintas, ou experiências oníricas e intimistas adaptadas para a realidade do espaço expositivo. Não se aflija, não se assuste. Antes que se perceba, corpo e espaço colidirão - não sem algum limite de conforto. Farão de si mecanismos de descoberta mútua, numa tensão entre atração, vulnerabilidade e repulsa, onde o primeiro se submete a uma experiência física e subjetiva de imersão frente ao fantástico. O desenho se revelará objeto de um cativeiro imaginário, sujeito suspeitoso, à espreita. É um jogo para dois.
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